A Terra que não deveria existir
Astrônomos pela primeira vez conseguiram determinar tanto a
massa como o diâmetro de um planeta de porte similar ao da Terra fora do
Sistema Solar. E o mais interessante de tudo: sua densidade é
praticamente idêntica à do nosso planeta, indicando uma composição
similar.
O que faltou para ser um gêmeo da Terra foi uma órbita similar. Na verdade, o mundo Kepler-78b gira tão perto de sua estrela que, em tese, nem deveria existir.
O Mensageiro Sideral já o mencionou previamente, no momento em que sua descoberta havia sido anunciada pela equipe responsável pelo defunto satélite Kepler. Mas a técnica usada pela espaçonave para detectar planetas — que mede a redução de brilho da estrela causada pela passagem de mundos circundantes à frente dela — só permite estimar o diâmetro deles.
Agora, dois grupos independentes obtiveram estimativas da massa. Andrew Howard, da Universidade do Havaí em Manoa, e sua equipe usaram o Hires, espectrógrafo instalado no Observatório Keck. Já Francesco Pepe, da Universidade de Genebra, e seus colegas usaram o recém-instalado Harps-N, uma réplica do Harps que está instalado em La Silla, no Chile, voltada para o céu do hemisfério Norte.
Esses instrumentos permitem medir o puxão que o planeta provoca em sua estrela pela ação gravitacional, o que dá a possibilidade de estimar a massa. O primeiro grupo estimou a massa em 1,69 vez a da Terra. O segundo, em 1,86 vez. Os dois números são suficientemente próximos para que um sirva como confirmação de outro. Ambos foram publicados em artigos separados que saem na edição da amanhã do periódico científico “Nature”.
DENSIDADE GÊMEA
Ao dividir massa sobre volume, os cientistas obtêm a densidade. Como já sabiam o diâmetro (1,2 vez o da Terra) e agora obtiveram a massa, puderam calculá-la. O primeiro grupo chegou a 5,3 gramas por centímetro cúbico. O segundo, 5,57 gramas por centímetro cúbico. A densidade da Terra é de 5,52 gramas por centímetro cúbico.
Moral da história: temos aqui um planeta muito similar ao nosso, rochoso e com um núcleo predominantemente composto por ferro, orbitando uma estrela muito similar ao Sol — Kepler-78 é uma anã amarela, tipo G.
O que nos deixa apenas com o gosto amargo da órbita curta. Kepler-78b completa um ano em apenas 8h30. Para que se tenha uma ideia do que isso significa, durante o dia, sua estrela ocupa metade do céu, do horizonte até o zênite. E o calor acachapante inviabiliza a presença de vida.
Aliás, a órbita é tão curta que os astrônomos nem sabem explicar como o planeta pode ter ido parar lá. E estimam que ele não vá durar para sempre. As forças de maré produzidas pela estrela continuarão a encurtar sua órbita e a estressá-lo fisicamente, até que ele seja engolido pela estrela. Os especialistas estimam que isso vá levar uns 3 bilhões de anos. A Terra, para efeito de comparação, tem 4,7 bilhões de anos de idade.
Kepler-78 fica a 400 anos-luz da Terra, na constelação de Cisne, e apesar de ser um planeta infernal traz boas notícias consigo: planetas com o mesmo perfil de composição da Terra devem ser bem comuns no Universo. O que anima os pesquisadores a buscar mundos similares em órbitas mais largas, que permitissem temperaturas amigáveis à vida.
Eu não duvidaria se até o final da década tivéssemos um punhado desses candidatos prontos para ter sua atmosfera sondada pelo Telescópio Espacial James Webb, o sucessor do Hubble, que deve ser lançado em 2018.
O melhor ainda está por vir!
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O que faltou para ser um gêmeo da Terra foi uma órbita similar. Na verdade, o mundo Kepler-78b gira tão perto de sua estrela que, em tese, nem deveria existir.
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Agora, dois grupos independentes obtiveram estimativas da massa. Andrew Howard, da Universidade do Havaí em Manoa, e sua equipe usaram o Hires, espectrógrafo instalado no Observatório Keck. Já Francesco Pepe, da Universidade de Genebra, e seus colegas usaram o recém-instalado Harps-N, uma réplica do Harps que está instalado em La Silla, no Chile, voltada para o céu do hemisfério Norte.
Esses instrumentos permitem medir o puxão que o planeta provoca em sua estrela pela ação gravitacional, o que dá a possibilidade de estimar a massa. O primeiro grupo estimou a massa em 1,69 vez a da Terra. O segundo, em 1,86 vez. Os dois números são suficientemente próximos para que um sirva como confirmação de outro. Ambos foram publicados em artigos separados que saem na edição da amanhã do periódico científico “Nature”.
DENSIDADE GÊMEA
Ao dividir massa sobre volume, os cientistas obtêm a densidade. Como já sabiam o diâmetro (1,2 vez o da Terra) e agora obtiveram a massa, puderam calculá-la. O primeiro grupo chegou a 5,3 gramas por centímetro cúbico. O segundo, 5,57 gramas por centímetro cúbico. A densidade da Terra é de 5,52 gramas por centímetro cúbico.
Moral da história: temos aqui um planeta muito similar ao nosso, rochoso e com um núcleo predominantemente composto por ferro, orbitando uma estrela muito similar ao Sol — Kepler-78 é uma anã amarela, tipo G.
O que nos deixa apenas com o gosto amargo da órbita curta. Kepler-78b completa um ano em apenas 8h30. Para que se tenha uma ideia do que isso significa, durante o dia, sua estrela ocupa metade do céu, do horizonte até o zênite. E o calor acachapante inviabiliza a presença de vida.
Aliás, a órbita é tão curta que os astrônomos nem sabem explicar como o planeta pode ter ido parar lá. E estimam que ele não vá durar para sempre. As forças de maré produzidas pela estrela continuarão a encurtar sua órbita e a estressá-lo fisicamente, até que ele seja engolido pela estrela. Os especialistas estimam que isso vá levar uns 3 bilhões de anos. A Terra, para efeito de comparação, tem 4,7 bilhões de anos de idade.
Kepler-78 fica a 400 anos-luz da Terra, na constelação de Cisne, e apesar de ser um planeta infernal traz boas notícias consigo: planetas com o mesmo perfil de composição da Terra devem ser bem comuns no Universo. O que anima os pesquisadores a buscar mundos similares em órbitas mais largas, que permitissem temperaturas amigáveis à vida.
Eu não duvidaria se até o final da década tivéssemos um punhado desses candidatos prontos para ter sua atmosfera sondada pelo Telescópio Espacial James Webb, o sucessor do Hubble, que deve ser lançado em 2018.
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