Nada de água: vida alienígena é mais provável em planetas desérticos
Quem disse que alienígenas gostariam de viver em um planeta parecido
com a Terra? Um novo estudo mostra o contrário. Ao invés de aquosos, os
planetas mais habitáveis podem ser desérticos, como o mundo retratado no
filme clássico de ficção científica “Duna”.
E essa não é a única conclusão surpreendente. O estudo também sugere
que o ardente Vênus – onde a temperatura média da superfície é de 460
graus Celsius – poderia ter sido um deserto habitável até relativamente
pouco tempo atrás, há 1 bilhão de anos.
Normalmente, as buscas pela vida em outros lugares do universo têm
sido guiadas pelo fato de que na Terra, em quase todos os lugares em que
há água, existe vida. Por isso, os “planetas água”, com muita água
líquida na superfície, são sempre alvos importantes.
Esses mundos aquáticos poderiam ser terrestres, em grande parte
cobertos por oceanos, como a Terra, ou realmente “planetas oceanos”,
completamente cobertos por uma camada de água com centenas de
quilômetros de profundidade – como Ganímedes, a lua congelada de
Júpiter.
Mas, para ser habitável, água definitivamente não é o suficiente.
Para que a vida possa ser possível, os planetas água devem orbitar sua
estrela em uma região chamada “zona Cachinhos Dourados”, em que não há
nem muito calor, nem muito frio.
Afinal, se os planetas estão muito longe do sol, eles congelam. E se
estão muito próximos, o vapor se acumula na atmosfera, prendendo o calor
que vaporiza ainda mais água, levando a um efeito estufa que ferve
todos os oceanos do planeta – foi isso que aparentemente aconteceu com
Vênus.
Eventualmente, esses planetas ficam tão quentes que forçam o vapor
d’água na atmosfera o suficiente para que ele se dividida em hidrogênio e
oxigênio pela luz ultravioleta. O hidrogênio, em seguida, escapa para o
espaço, e o oxigênio possivelmente reage com a superfície em fundição e
é incorporado ao manto. Assim, a atmosfera do planeta perde toda a sua
água ao longo do tempo.
Em vez de planetas aquáticos com água em abundância ao longo da
superfície, os pesquisadores investigaram como poderiam ser os planetas
desérticos. Eles podem não ter oceanos e serem vastos e secos desertos,
mas talvez tenham alguns oásis que possibilitem a vida.
O planeta Arrakis, descrito pelo filme “Duna”, é um exemplo
excepcionalmente bem desenvolvido de um planeta nesses moldes que
poderia ser habitável. Arrakis é uma versão maior, mais quente e mais
habitável do que Marte, com uma atmosfera de oxigênio respirável e
regiões polares frescas e úmidas o suficiente para produzir pequenas
gotas de orvalho pela manhã.
Cientistas argumentam que a escassez de água em um planeta pode
realmente ajudá-lo a ter uma maior zona habitável, e pode haver várias
razões para isso. Um planeta seco tem menos água para se tornar um globo
de neve e gelo, que reflete a luz solar de volta para o espaço. Ele
pode, a princípio, absorver mais calor para resistir ao congelamento
global.
Além disso, a escassez de água na atmosfera de um planeta seco
torna-o menos quente do que um planeta aquático, ajudando a evitar um
efeito estufa descontrolado. Com a menor quantidade existente de água na
atmosfera, também há menos radiação ultravioleta para dividir o vapor
em hidrogênio e oxigênio.
Pesquisadores fizeram experimentos com modelos tridimensionais da
Terra, representando o clima em diferentes condições. Eles descobriram
que uma zona habitável de um planeta seco foi três vezes maior do que um
planeta aquático – o que demonstra que nosso ponto azul no universo
pode não ser o único modelo de planeta habitável.
No mesmo experimento, pesquisadores descobriram que o congelamento
completo de um planeta aquático ocorre quando a quantidade de luz solar
cai para abaixo de 72 a 90% do que a Terra recebe, dependendo de como
seu eixo de rotação é inclinado para o sol.
Já os planetas secos resistem melhor ao congelamento global. Para que
eles sejam completamente congelados, a luz do sol deve estar abaixo de
58 a 77%. Isso significa que planetas secos podem estar localizados mais
longe de suas estrelas e ainda sim permanecerem potencialmente
habitáveis.
O cientista planetário Jim Kasting, da Universidade Estadual da
Pensilvânia, EUA, que não fez parte do estudo, afirma que essa é uma
pesquisa inteligente, mas que não vai realmente ajudar a encontrar novos
planetas habitáveis, sejam eles de terra ou de água.
Planetas aquáticos como o nosso vão continuar sendo procurados.
Planetas como Arrakis, de “Duna”, podem ser dificilmente observados por
nossos telescópios. “Eu não acredito que isso vai mudar nossas
estratégias para procurar a vida à distância”, afirmou Kasting.
Mas pesquisadores do estudo discordam, e dizem que a água está se
mostrando tão onipresente que não pode ser considerada como um atestado
de habitabilidade de um planeta.
Os cientistas salientam que não estão à procura de planetas que sejam
habitáveis de forma permanente, apenas aqueles que podem ser habitáveis
por tempo suficiente para a vida. Até porque nenhum planeta é habitável
permanentemente.
A própria Terra pode um dia tornar-se um mundo deserto. Com o
envelhecimento do nosso sol, a radiação possivelmente irá acabar com a
água líquida do planeta, a dividindo em hidrogênio e oxigênio. No
entanto, cientistas calculam que a Terra ainda pode permanecer habitável
por bilhões de anos antes que o sol comece a morrer.
Uma questão interessante sobre habitabilidade sem dúvida é Vênus, o
planeta mais quente do sistema solar. Supondo que Vênus teve oceanos de
água líquida, os cálculos dos pesquisadores sugerem que é possível que
Vênus tenha passado por um período em que era um planeta seco, mas
habitável.
Pesquisas futuras poderão investigar mais precisamente como planetas
possivelmente habitáveis no passado, como Vênus, podem ter sido. [
Space]